A Terceira Guerra do Líbano inicia

A Terceira Guerra do Líbano inicia

Israel sofreu um duro golpe no dia 7 de outubro de 2023, golpe esse que não será esquecido e se tornou uma mancha recente da história do país, que naquele dia viveu um dia de muitas perdas de vidas e sua inteligência sofreu uma humilhação histórica. Muitos analistas se questionaram como e o porquê de isso ter ocorrido.

Fato é que desde então, Israel entrou em guerra contra o Hamas, estabeleceu metas e partiu para o ataque, em busca de segurança e vingança. As metas militares a serem alcançadas foram definidas pelo atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e são: a desmilitarização do Hamas em Gaza, a recuperação dos reféns e a garantia de que o Hamas nunca mais pudesse governar.

Hezbollah: maior grupo proxy da região

Com o começo do conflito na Faixa de Gaza, o maior grupo proxy da região, o Hezbollah, disparou milhares de mísseis, foguetes e morteiros contra Israel, deslocando mais de 90 mil cidadãos israelenses no Norte, além de vitimizar tanto civis quanto soldados.

A guerra que antes era localizada, gradualmente se deslocou, e questões antigas voltaram a mesa, como a questão do deslocamento do grupo Hezbollah, que segundo a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, não poderia ficar perto da fronteira israelense, e sim ao norte do rio Litani. A Resolução fala que quaisquer forças que não sejam as forças de paz da ONU ou militares libaneses devem desocupar o local.

Essas questões do passado voltaram ao passo que a guerra em Gaza se revelava sem saída para Israel — que em seus objetivos ilusórios de perseguir um grupo terrorista se viu preso há um local agora arruinado pela destruição da guerra — começou a repensar sua estratégia.

O Líbano entrou no radar de Israel, que deslocou suas forças para mais perto agora da fronteira daquele país. Ataques aéreos se iniciaram, muitos líderes do Hezbollah foram mortos e muitos civis também, Beirute foi atacada e a destruição se torna visível em cada foto compartilhada por jornalistas e pessoas que moram na capital.

A incursão terrestre parecia apenas questão de tempo, já que Israel travou uma guerra similar no passado, embora distinta se compararmos com a atual guerra, mas o que podemos afirmar é que na última vez em que o exército israelense esteve no Líbano foi um desastre.

Em 2006, mais um anúncio de guerra acontecida no Oriente Médio, e soldados israelenses se viram atolados em combates perigosos, com soldados do Hezbollah liderando colunas de tanques, após emboscadas que tinham sido preparadas de forma bastante minuciosa.

O resultado não foi bom, pelo menos 20 tanques foram destruídos e 121 soldados israelenses morreram.

A Comissão Winograd nomeada pelo governo, criada para avaliar o resultado da guerra, concluiu na época que “Israel iniciou uma longa guerra, que terminou sem sua clara vitória militar”.

Um fracasso para Israel, após uma história tão brilhantes de guerras vencidas na região. Se passaram duas décadas desde então, e vemos um novo anúncio feito por Israel: nós vamos fazer uma operação terrestre no Líbano.

Embora ela tenha sido vendida como uma operação limitada, de forma oficial, as evidências nos sugerem o contrário, com base na escala das tropas, dos tanques e das imagens do terreno, podemos falar que o país se prepara para uma invasão mais longa no Líbano.

Como eu falei no início do texto, Israel mudou seus objetivos de guerra. Se antes tínhamos objetivos concentrados no que acontecia em Gaza, a ampliação da guerra para o Norte fez com que novas conquistas militares fossem colocadas na mesa de opções.

A questão dos deslocados se tornou um novo objetivo militar do país e isso não só justifica o envio de tropas para próximo da fronteira, como justifica as novas batalhas fronteiriças, fora a questão já citada aqui da Resolução 1701, que foi violada pelo Hezbollah.

A nova operação israelense promete!

Israel enviou unidades de elite, transmitindo ao Hezbollah a mensagem de que está levando a sério o objetivo de retirá-lo da fronteira e até mesmo desmantelar o grupo por completo.

A divisão de tropa de elite tem cerca de 12.000 a 14.000 soldados e será apoiada por dezenas de tanques e artilharia, cabe colocar que os soldados que foram destacados para o sul do Líbano estão endurecidos pela batalha, embora estejam exaustos por conta dos longos meses de combate em Gaza.

Podemos falar que diferentemente de 2006, quando Israel organizou muito às pressas uma operação em resposta ao assassinato de oito soldados por combatentes do Hezbollah e ao sequestro de mais dois oficiais, os militares prepararam o terreno para sua atual ofensiva militar.

O líder do Hezbollah pelos últimos 32 anos, Hassan Nasrallah, foi morto em um ataque aéreo israelense em Beirute – uma violação dramática da segurança do secreto grupo libanês. Vários outros líderes e comandantes seniores do Hezbollah também foram mortos nos últimos dias.

Segundo o jornal Al Jazeera, Rodger Shanahan, ex-oficial de ligação do exército australiano durante a guerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah, disse que o exército israelense “aprendeu lições” do último conflito e vem “degradando” as capacidades do Hezbollah.

Shanaham disse o seguinte: “É muito mais bem planejado do que em 2006, muito mais trabalho preparatório, e o Hezbollah foi degradado a um ponto em que não estava em 2006.”

Como exemplo dessa preparação, tivemos Israel lançando um ataque direcionado em Beirute no dia 20 de setembro, tirando a vida de grande parte da liderança da chama “Unidade Radwan” do Hezbollah.

As Unidades Radwan são forças de operações especiais do Hezbollah e que atuam em operações terrestres, sabemos que líderes de grupos terroristas podem ser substituídos. Entretanto, em um primeiro momento, isso causa um choque e muitas vezes desanda as operações dos grupos.

Observamos Israel também bombardear diversos depósitos de armas do Hezbollah, buscando diminuir o estoque do grupo, que era estimado, segundo dados de institutos de estudos de guerra, em 120.000 a 150.000 unidades no início dos confrontos. Possivelmente, esse número hoje esteja reduzido, embora continue alto.

O exército israelense também se preocupa com a capacidade de disparos conjuntos e ininterruptos que o Hezbollah poderia fazer. Isso sobrecarregaria o seu sistema de defesa Iron Dome, que já enfrenta problemas de escassez de munição.

A criação de uma zona-tampão no sul do Líbano.

O que sabemos mesmo é que Israel foi para o ataque. Iniciou uma operação terrestre, muito possivelmente o seu objetivo é a criação de uma zona-tampão no sul do Líbano.

Caso Israel queira realmente fazer isso, precisará manter suas tropas no solo, o que pode torná-los alvos mais fáceis para o Hezbollah, isso nos demonstraria que Israel estaria indo além de seu escopo “limitado” e envolvendo seus militares em um novo atoleiro no Líbano.

Vimos durante essa semana que as forças israelenses filmarram a detonação por completo da cidade de Mhaibib, no sul do Líbano, localizada perto da fronteira.

Esse método, chamado de “método de despovoamento” e destruição de áreas civis é visto atualmente no norte da Faixa de Gaza, com Israel ordenando que todos os moradores da área saiam enquanto continuam bombardeando a Faixa de Gaza. Grupos de ajuda humanitária alertaram que Israel está atualmente ” apagando ” o norte da Faixa de Gaza.

Alguns analistas acreditam que Israel quer repetir isso no Líbano, ou seja, eles começarão despovoando as aldeias e depois explodindo-as, o que já observamos Israel fazer, como eu apontei — e o que é obviamente um crime de guerra de destruição gratuita — poderia ser a única maneira de deixar uma terra arrasada para trás, o que tornará mais difícil para o Hezbollah se sustentar.

Essa estratégia, que alguns analistas dizem que Israel implementou em Gaza, consiste em explodir qualquer coisa remotamente relacionada a grupos que lutam contra Israel, incluindo infraestrutura civil, como um método de punir as comunidades por hospedar o Hamas em Gaza ou o Hezbollah no Líbano.

Os efeitos da incursão terrestre em um curto e longo prazo parecem trazer diversas questões, desde custos de vidas de civis, deslocamentos em massa e para Israel um desgaste cada vez maior do seu exército e ainda o risco de sofrer múltiplos ataques aéreos.

O Hezbollah ao longo dos anos construiu diversos túneis e estabeleceram várias posições defensivas. Nós observamos hoje as operações israelenses na fronteira se movendo lentamente, isso pode arriscar ataques surpresas do grupo Hezbollah, o que pode levar a baixas israelenses significativas ou ao risco de o Hezbollah fazer prisioneiros militares.

Mesmo com uma abordagem cautelosa, o Hezbollah possivelmente vai impor baixas significativas às forças israelenses, como fez em 2006.

Além do Hezbollah também temos outra questão: o que o Irã irá fazer?

O Irã pode, por exemplo, pressionar por um fim rápido para preservar o Hezbollah, pois pode não querer perder sua maior força proxy na região. O Hezbollah desempenharia um papel retaliatório fundamental se Israel atacasse as instalações nucleares do Irã, problema esse que tenta a todo custo ser contornado por diplomatas americanos, já que sabem os custos disso para ampliar a guerra de forma regional.

Uma decisão do Hezbollah e do Irã pode fazer com que rapidamente nós tenhamos uma guerra total, envolvendo milhares de ataques massivos e sustentados de foguetes, mísseis e drones contra Israel, assim como Israel fará o mesmo contra o Irã, também temos a possibilidade de o Hezbollah realizar operações terrestres limitadas em território israelense, mas devo dizer, que no cenário atual, tais operações terrestres ainda são improváveis.

Como já falamos a principal força de operação terrestre do Hezbollah passou por uma desmoralização muito grande, o que dificulta hoje uma coordenação para uma operação terrestre bem-sucedida, caso o Irã opte por centralizar o comando no país e retirá-lo do Líbano, a possibilidade terrestre se tornaria mais palatável e poderia entrar em um cenário de forma mais provável, mas são eventos que ainda precisamos observar.

Avatar de Paula Buzzeti

2 respostas para “A Terceira Guerra do Líbano inicia”

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