ChatGPT está ultrapassando profissionais da área médica?

ChatGPT está ultrapassando profissionais da área médica?

O ChatGPT, criado pela OpenAI, está se destacando como um marco em inovação na inteligência artificial generativa, por meio de seu modelo mais recente, o GPT-4. Atualmente, especialmente no setor da saúde, estão sendo realizadas investigações abrangentes em diversas áreas do conhecimento, incluindo doenças do coração e neurocirurgia, utilizando com êxito essa quarta versão da ferramenta.

Na Turquia, por exemplo, um estudo do Departamento de Emergência da Universidade Hitit analisou a precisão diagnóstica do GPT-4 em relação a dados do Eletrocardiograma (ECG), comparando seu desempenho com o de profissionais em medicina de emergência e cardiologistas. Na pesquisa, um total de 40 casos de ECG foram elaborados em formato de múltipla escolha — englobando 20 questões comuns e 20 mais complexas.

O conjunto de participantes foi composto por 12 profissionais em medicina de emergência e 12 profissionais em cardiologia. Em relação às questões rotineiras de ECG, o GPT-4 apresentou um desempenho superior em comparação aos profissionais de medicina de emergência e aos cardiologistas.

Nas situações mais complexas, embora o ChatGPT tenha superado os profissionais de medicina de emergência, não houve diferença estatisticamente significativa entre o ChatGPT e os cardiologistas. Ao avaliar a precisão nas questões totais de ECG, o ChatGPT foi considerado mais eficaz em comparação aos profissionais de medicina de emergência e aos cardiologistas.

Noutro trabalho, que envolveu diversas instituições, entre elas a Universidade do Sul da Califórnia, a ferramenta exibiu uma performance excepcional em se tratando de exames padronizados. A pesquisa examinou a competência do GPT-4 em questões do tipo conselho neurocirúrgico, comparando seu desempenho com estudantes de medicina e residentes, para explorar seu potencial na educação médica e na tomada de decisões clínicas. 

O desempenho do GPT-4 foi observado em 643 questões, percorrendo várias subespecialidades e utilizando o Exame de Autoavaliação de Neurocirurgia (SANS). Destas, 477 eram baseadas em texto e 166 continham imagens. O GPT-4 se recusou a responder 52 questões que não possuíam texto. As 591 questões restantes foram inseridas no GPT-4, e seu desempenho foi analisado com base em respostas pela primeira vez.

O GPT-4 tentou 91,9% das questões do SANS e obteve 76,6% de precisão. A acurácia do modelo aumentou para 79%, quando se trata das questões somente de texto. Ele superou o desempenho de estudantes de medicina (26,3%), residentes de neurocirurgia (61,5%) e a média nacional de usuários do SANS (69,3%), em todas as categorias.

Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador na área de inovação tecnológica, Dr. Paulo Henrique de Souza Bermejo, antes assunto de ficção científica, a IA agora é parte da nossa vida diária — muitas vezes sem que pensemos nisso.

“Todos os profissionais, o que inclui aqueles do setor de saúde, ganham muito em entender as capacidades de ferramentas avançadas de IA e outras inovações, pois é essa compreensão que permitirá a eles reconhecerem oportunidades e ameaças que as tecnologias emergentes podem trazer”, contou.

Conforme o docente, hoje a IA já se faz presente em prontuários médicos, programas preventivos, consultas, triagem e intervenção, entre outras esferas da área, e a expectativa é que atinjam um nível de maturidade que em breve impactará a medicina como um todo, aprimorando quase que totalmente a prestação de cuidados em saúde. Vale mencionar, porém, como destacado pelo professor Bermejo, que os aspectos humanos do atendimento, a exemplo de empatia, compaixão e pensamento crítico, permanecem fundamentais, bem como a tomada de decisões complexas está intrinsecamente ligada aos profissionais.

“Tal tecnologia apresenta muitas limitações e não pode substituir o contato direto entre um médico experiente e um paciente, mesmo para as consultas aparentemente mais simples, sem falar nos aspectos éticos e legais da responsabilidade pelo diagnóstico. Ela é adequada como uma ferramenta de suporte, não uma solução completa, assim, o trabalho e informações que fornece devem ser verificados”, explicou.

Questões essenciais ou uma complexa relação

As aplicações da IA em educação, pesquisa e assistência médica podem realmente ser muito promissoras se as questões envolvidas forem exploradas e abordadas proativamente, como afirmou o professor. Ele enfatizou que poucos setores são tão ricos em dados e texto quanto a assistência médica.

Além dessas características, existe uma necessidade de conhecimento por parte de ambos os lados: os pacientes querem ser mais bem informados a respeito de sua condição, e as equipes clínicas buscam estar mais atualizadas, sobretudo para melhor esclarecê-los sobre a assistência que prestam. Nesse contexto, a IA pode fornecer um conteúdo abrangente, que permita o aconselhamento médico, bem como informações de várias fontes para melhor atender e educar os pacientes sobre seus quadros ou sintomas.

O pesquisador acrescentou que a introdução da inteligência artificial leva a uma complexa relação entre médico, paciente e IA. Por isso, torna-se essencial deliberar acerca da implantação ética e segura dessas ferramentas progressivamente inteligentes. Os tópicos mais relevantes para a saúde, como endossado pelo professor, referem-se à privacidade e segurança.

“Ao usar o ChatGPT, os usuários fornecem dados e isso tem implicações de privacidade. É importante garantir a confidencialidade dessas informações, antes que o ChatGPT possa ser amplamente utilizado. Além disso, a implantação dele deve ser criteriosa, com decisões consolidadas pela expertise dos profissionais de saúde”, assinalou.

Em essência, a IA promete melhorar significativamente a prestação de serviços na área e espera-se que incentive mudanças de fato transformadoras, semelhantes ao impacto trazido pela Internet à indústria. Noutra perspectiva, o professor Bermejo afirmou que inclusive o GPT-4 pode em breve ser eclipsado por entidades de IA mais especializadas em setores específicos.

Na área de saúde, por exemplo, há um vasto número de modelos especializados, tais como:

ModeloFabricanteObjetivoFunção Principal
MedPaLMGoogle DeepMindResponder perguntas médicas e realizar tarefas clínicasDiagnóstico assistido e suporte em telemedicina
BioGPTMicrosoftCompreender e analisar literatura científica biomédicaSumarização de artigos e suporte à pesquisa
PubMedGPTTreinado com dados do PubMedAnálise de artigos científicos em biomedicina e saúdeFocado em pesquisa e extração de informações
ClinicalBERTGoogle ResearchAnalisar registros eletrônicos de saúde (EHRs)Previsão de diagnósticos e sumarização de prontuários clínicos
GatorTronUniversity of Florida HealthProcessar e analisar textos médicos e informações clínicasExtração de dados de registros médicos
CODExIBM ResearchExtrair e classificar dados clínicos e médicosAnálise de registros de saúde
nSpaCy (Clinical NLP Pipeline)Equipe SpaCyProcessar linguagem natural em textos médicosFoco em sumarização e classificação de prontuários e relatórios clínicos
Avatar de John Oliveira

2 respostas para “ChatGPT está ultrapassando profissionais da área médica?”

  1. Avatar de Oliver

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